Psicoterapia breve: uma forma mais compacta para tratar as angústias de alguém? E isso necessariamente seria mais superficial e menos assertivo? Como definir o tipo de abordagem para que apresente resultados efetivos? Que tipo de resultado estamos buscando quando falamos em terapias como a psicanálise ou a psicoterapia breve? 

Assim como na psicanálise, existem várias vertentes na psicoterapia breve, baseadas em estudiosos como Ferenczi, Malan, Gilliéron, Alexander, French, Winnicott, Bergeret, Balint, Sifneos, sem excluir o criador da psicanálise Sigmund Freud.

As psicoterapias breves podem ser divididas em duas grandes categorias: as de orientação psicanalítica (que consideram a existência do inconsciente) e as de orientação cognitiva e comportamental (que não levam em conta o funcionamento inconsciente).

Ferenczi trazia alguns fatores para além do tratamento-padrão, como por exemplo, a importância da experiência, da vivência na relação terapêutica como forma de tratamento. Freud valorizava  a recordação e a construção muito mais que a experiência em si.

Alexander e French propuseram variações no enquadre na análise clássica, como diálogos além das associações livres, frequência variável das sessões conforme a necessidade de cada sujeito, sugestões na vida cotidiana do paciente, utilização de experiências da vida real e manejo da transferência de acordo com  caso.

Bergeret propõe um enquadramento em três variações de personalidade, assim como Freud já teria proposto, para se avaliar a natureza da angústia. Sendo que para Freud os três tipos se dividem em erótico – pessoas dominadas pelo temor da perda de amor – obsessivo – pessoas dominadas pela consciência (superego) e narcísico – interesse na autopreservação. Paralelamente e respectivamente, Bergeret propõe o tipo estado-limite (EL) – com a dominância do ideal do ego com angústia principal sendo a perda do objeto, o tipo neurótico (N) – ao lidar com a castração deseja o triunfo fálico e a disputa – e o tipo psicótico (P) –  conflito entre o id e a realidade com a principal angústia na fragmentação.

Ressalvando que para Freud, os tipos psicológicos não coincidem com quadros clínicos, mas ajudam a compreender melhor o que há de normal ou patológico, uma vez que qualquer um dos tipos pode ser considerado um estado normal ou patológico. Bem como, para Freud existem tipos mistos como N/EL, EL/P, PN.

Em relação a tipos de personalidade, Mauro H. indica que não há um tipo melhor ou pior que outro e, que todos os humanos, em proporção maior ou menor, possui em si todas as variações de personalidade e ainda, considera que essa classificação, no decorrer das experiências vividas e até por conta de processos terapêuticos podem sofrer alterações. Para ele, essa observação dos tipos de personalidade auxilia o terapeuta de psicoterapia breve a fazer um “plano  de ação” para sua atuação junto ao cliente, o que na análise clássica lida-se apenas quando isso se torna questão durante o processo.

Alguns pontos que podem ser considerados similares entre psicanálise e psicoterapia breve psicanalítica são o uso da associação livre, da atenção flutuante e da neutralidade do terapeuta. Em alguns casos, quando possível também pode haver a interpretação da neurose de transferência, embora, como o tempo é caraterística fundamental da PB, nem sempre há tempo para ocorrer a neurose de transferência, bem como os processos de regressão.

Um ponto que, no meu entendimento, distingue uma terapia da outra é justamente a questão da determinação do tempo na psicoterapia breve, já que para a psicanálise essa não é uma questão pré-determinada. Para alguns, a limitação temporal pode ser considerada como um impedimento para aprofundamento e para os defensores da PB é um elemento propulsor para que se atinja um resultado. Alguns consideram que o limite de tempo inibe as satisfações regressivas, altera os benefícios secundários dos sintomas e a compulsão à repetição se modifica a partir da castração, ou seja, do espaço temporal definido desde o início do tratamento.

Outro ponto de distinção é o foco. Desde o início, a partir das primeiras sessões, define-se a problemática central a ser tratada durante o processo terapêutico. Observa-se a queixa, a demanda, os sintomas, a situação atual do cliente, do ambiente em que ele está inserido, suas características de personalidade. A partir disso se estabelece um plano de trabalho que envolve os acordos entre cliente-terapeuta, circunscreve os assuntos a serem abordados nas sessões e com isso, dá-se um sentido para o prazo pré-estabelecido.

Inclusive a questão da focalização é um fator determinante da indicação da PB, pois o sujeito precisa ser capaz de focalizar, de reconhecer os limites do tempo de duração da terapia para conseguir aproveitar todo o processo no tempo e condições pré-determinadas.

Na psicoterapia breve não se utiliza do divã, nem da necessidade de várias sessões semanais, bem como não leva em consideração o tempo ilimitado da terapia como se faz na psicanálise padrão. Mauro H. comenta que a PB incomoda o narcisismo do terapeuta que é obrigado a contentar-se com um trabalho “incompleto” – ele diz: “como se alguma terapia fosse completa!”

Outros pontos que eu considero relevantes para a PB é que o terapeuta, para se dedicar à psicoterapia breve precisa ter flexibilidade para o enquadre terapêutico, bem como precisa acreditar na capacidade de elaboração por parte do cliente, após o encerramento da terapia e também, considerar a hipótese de um mesmo cliente realizar vários processos de PB ao longo da vida, mediante sua necessidade de enfrentar ou lidar com processos de crise. Crise que subentende-se como uma ruptura do equilíbrio, um corte na subjetividade ou uma ruptura no sentido da vida.

Uma outra variação na psicoterapia breve, além dos tipos de personalidade, é a avaliação se o cliente está em crise ou à beira dela, pois considera-se um enquadramento terapêutico diferente para cada situação, ou seja, com o paciente fora de crise, dentro da crise ou à beira dela.

Nota-se que a psicoterapia breve está diretamente relacionada com questões da atualidade, como gestão do tempo, que me parece ser uma questão sempre em voga para todas as pessoas, os resultados mais “rápidos e pontuais” – uma exigência dos tempos contemporâneos que nem sempre colabora com o processo – também com questões sócio/políticas/financeiras, pois nem sempre as instituições públicas ou privadas se dispõe a arcar com tratamentos sem tempo determinado, bem como requer uma certa programação e disponibilidade financeira das pessoas para encarar um tratamento por um longo período de tempo.

Todavia, entendo que a indicação de um tipo de terapia, seja ela psicanálise ou psicoterapia breve, ou ainda qualquer outra forma terapêutica com foco em saúde mental, precisa se levar em consideração o próprio cliente, sua demanda, sua realidade, sem deixar de lado a experiência do terapeuta, que pode – ou deve – indicar o melhor caminho considerando, não apenas a sua teoria e práticas, mas também as existentes no mercado, o que pode ajudar a definir se aquele cliente, com suas especificidades, tem características para que suas práticas – as do terapeuta – possam orientá-lo de forma suficiente a fim de se alcançar benefícios relevantes para a vida do sujeito.

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