Por Kelly Freire Neuropsicanalista
Você já passou por uma traição?
Eu sei que pode ser um soco no estômago. Se você quiser desabafar, fique à vontade para escrever nos comentários ou me chame através do meu site, ok?
Quero começar por um detalhe importantíssimo: O outro é como pode e consegue ser! Não temos nenhum controle sobre isso. Você não é culpada ou culpado por ter sido traída ou traído!
E é por conta disso, que mesmo relações compatíveis, são como um contrato de risco. Nós não sabemos como o outro vai se comportar, assim como também não temos a certeza de como nós mesmos nos comportaremos.
Com o passar do tempo vamos consolidando o formato da relação, e isso depende de várias habilidades pessoais, como por exemplo, a capacidade de comunicação, a capacidade de termos empatia, a capacidade de sermos francos e leais, além da capacidade de fazer E CUMPRIR os acordos. Porque sim, CUMPRIR ACORDOS é uma parte bem importante. Que tipo de acordo? Vários! Uma relação saudável se constrói baseada em acordos frequentes, mas tem um que envolve diretamente a questão da traição: É um relacionamento aberto? ou tradicional monogâmico?
São muitos os fatores que determinam se a relação vai funcionar ou não.
Em primeiro lugar acredito na compatibilidade de ideais e expectativas como fundação do edifício da relação. Sem isso, as coisas ficam bem mais difíceis de serem administradas desde o início. No início de um relacionamento é quando se fazem os primeiros acordos compatíveis com os valores e expectativas de ambos.
Em segundo lugar acredito que a base de uma boa parceria é a confiança, porque não há amor sem confiança. Lealdade é a base da confiança e sem confiança não há amor que se sustente. E a confiança a que me refiro é aquela plena, incluindo a lealdade e a fidelidade, mas não apenas isso, envolve também a crença de que juntos haverá sempre uma alternativa positiva para superar os desafios que surgirão na vida a dois.
E somando-se a esses dois fatores, acredito que não temos e nunca teremos o controle sobre o outro. E isso significa que as regras são postas, ficam claras para ambos, mas nunca teremos a certeza de que serão seguidas. Apenas temos a certeza de que o jogo é claro, cristalino e apostamos para que dê certo.
Lembre-se que o outro é como pode ser. E faz o que quer fazer. Não podemos nos esquecer disso. E a nossa parte é decidir se aquilo é bom ou não, se é o que queremos experimentar ou não.
Quando acontece uma ruptura nos acordos firmados, o que nos resta, além de nos decepcionarmos, é decidir o que queremos dali pra frente.
A psicanálise tem uma perspectiva da traição como um “trauma narcísico”
A traição conjugal pode ser entendida como uma ferida narcísica, um tipo de ferida emocional que afeta a imagem que uma pessoa tem de si mesma. Na psicanálise, o termo “narcisismo” se refere ao amor e à valorização que temos por nós mesmos. Quando alguém é traído, sua percepção de valor e de dignidade pessoal pode ser fortemente abalada. Esse abalo coloca em declínio total a ideia de que somos únicos e especiais para nosso parceiro(a), além de afetar a autoestima e a confiança, gerando uma imensa crise pessoal.
O terapeuta ajuda a pessoa a investigar como a traição atingiu sua autoestima e identidade, questionando quais eram as expectativas em relação ao parceiro e ao relacionamento. Esse processo não é simples, mas pode levar a pessoa a encontrar novas fontes de autovalorização e amor-próprio.
Outro ponto que a psicanálise aborda é exploração do inconsciente: padrões e experiências passadas.
No processo psicanalítico, explora-se o histórico de relacionamentos da pessoa. Uma boa visão de como era, pode indicar como será. E as expectativas criadas ao longo do tempo. É crucial entender as expectativas. A análise pode levar à descoberta de padrões emocionais repetitivos, como medo de abandono, idealização do parceiro ou baixa autoestima. Muitas vezes, a traição atual reativa feridas antigas, possivelmente de outras experiências de rejeição.
Compreender essas raízes ajuda a trabalhar os padrões inconscientes e a reação à traição, o que torna a pessoa mais consciente de suas vulnerabilidades e emoções.
Além de trazer novas perspectivas mais positivas.
Tem também o papel das defesas psíquicas.
Quando ocorre uma traição, é comum que surjam defesas emocionais, como negação, racionalização ou projeção, que servem para lidar com a dor. Negar ou fingir que não aconteceu. Tem muita gente que prefere não saber, que sabe e finge que não é com ela. Essas defesas podem bloquear o processo de superação porque mantêm o sofrimento reprimido, ou recalcado no inconsciente.
A psicanálise ajuda a “baixar a guarda” dessas defesas, permitindo que a pessoa acesse a dor genuína da traição, a raiva e a tristeza que vêm com ela.
Nem todo mundo tem coragem para isso.
Embora difícil, esse contato com a dor é essencial para a cura, pois leva à verdadeira elaboração da experiência, permitindo ao paciente entender melhor suas emoções e, assim, processá-las de forma mais saudável. E ter a chance de se permitir criar um novo padrão emocional.
Outro aspecto importante é a possibilidade de construir uma nova narrativa para a experiência da traição.
À medida que a pessoa compreende suas reações e os padrões emocionais envolvidos, ele pode começar a ver a traição não apenas como uma experiência negativa, mas como uma oportunidade de crescimento e autoconhecimento. Oportunidade dolorida e bem esquisita essa!
Ao ressignificar a experiência, a pessoa reduz a carga emocional negativa e ganha mais resiliência. Esse processo pode também ajudá-lo a estabelecer novos limites, valores e expectativas para futuros relacionamentos, seja com o mesmo parceiro ou em um novo relacionamento.
E aí vem a Superação e o Perdão – não necessariamente significa reconciliação.
Superar o trauma de uma traição não exige que a pessoa perdoe o parceiro no sentido tradicional sugerindo uma reconciliação.
O perdão, na psicanálise, é entendido como uma liberação do ressentimento e do sofrimento associado à experiência. Trabalhando terapeuticamente as emoções geradas pela traição como a vergonha, a humilhação, a tristeza, a raiva, a pessoa pode alcançar um ponto de paz interior em que a traição não a define mais, sentindo-se livre da dor. Esse é o ponto mais importante, livrar-se da dor!
Esse perdão é mais um ato de cura emocional e pode ou não levar à reconciliação, dependendo dos objetivos e da decisão da pessoa. Cada um sabe o que quer para sua vida….ou deveria saber…..
O processo terapêutico é focado na auto descoberta e na cura emocional, ajudando a pessoa a encontrar novas maneiras de se valorizar e estabelecer relacionamentos mais saudáveis, baseados em autoconfiança e clareza emocional.
Precisa haver o resgate da autoestima, da autoconfiança, da auto valorização e de crenças produtivas, porque é muito fácil, num momento de traição, encher a mente com ideias limitantes e prejudiciais. Num outro vídeo eu falarei mais sobre isso….sobre como não entupir a mente com ideias que atrasam ou trancam a nossa vida.
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